Hoje a minha mãe faz anos.
Logo a seguir a abrir este blog
fui atacada por uma dor do lado esquerdo do meu corpo. Como se me espetassem
facas ao mesmo tempo no pescoço, na omoplata e no cotovelo, fui-me tolhendo e
as minhas obras ficaram embargadas.
Hoje a minha mãe faz anos. O que
eu mais queria era dar-lhe um abraço.
Pesquisei com apuro no Google
durante quase cinco minutos e estabeleci o diagnóstico. Trata-se de uma tendinite
da coifa dos rotadores. Saber o que se tem costuma trazer algum alívio. Mas,
depois de ler este nome, a mim doeu-me mais. Intensificando-se quando, num site de um hospital particular
português, a que atribuo razoável credibilidade por ser muito conhecido, li: «Mas fique já a saber: os sintomas de
tendinite do ombro podem ser incapacitantes e o melhor é consultar um médico.»
Tal sentença, já de si pouco tranquilizadora, tendo em conta a actualidade,
pôs-me a chorar. Bem diz o velho ditado: se sentires uma dor, não pesquises no
computador.
Hoje a minha mãe faz anos. O que
eu mais queria era que ela me desse um abraço.
A coifa dos rotadores soa a nome de terreno de
cultivo. Se fechar os olhos, consigo ver o meu avô a dizer que vai sachar as
batatas à Coifa dos Rotadores. Na internet dão-lhe outros nomes. Bursite subacromial
faz-me sentir mais doente. Conflito da coifa dos rotadores deixa-me insegura.
No entanto, tendinite no manguito rotador traz-me um certo alívio.
Hoje a minha mãe faz anos. Nas consultas que
se fazem no início do ano ao calendário, percebi que este ano não precisava de
tirar férias para passar o dia com ela porque calha a um sábado.
Li mais. Nas causas intrínsecas
percebi que ter deixado de ir regularmente ao trabalho me tinha tramado. A
alteração da postura era a responsável. As qualidades anatómicas do mobiliário
do escritório fazem a minha secretária com um banco bonito aqui de casa corar.
Troquei o banco por uma cadeira. Nas causas extrínsecas percebi que o uso
intensivo do computador era o outro culpado. Passei a uso exclusivo do
telemóvel e desisti do teletrabalho por dois dias.
Hoje a minha mãe faz anos. O seu
aniversário costuma cheirar a Primavera.
Por conselho de médico amigo, fui
à farmácia. Após longa conversa com o farmacêutico acerca dos perigos de tomar
um certo medicamento, ele quase me gritou por detrás da máscara: «Tome lá o
Brufen que não lhe faz mal nenhum. Por causa dessa história o Ben-U-Ron é que
ganhou». Comprei logo duas caixas. Senti-me açambarcadora. Com o caloroso apoio
de sacos de sementes de aquecer no microondas e sacos de água quente, fui-me
aguentando. Hoje posso congratular-me, e até gabar-me, de que já só sinto
facadas na omoplata de meia em meia hora. Mais, esta foi a primeira noite que
dormi toda de seguida e sem o saco de água quente debaixo do pescoço.
Hoje a minha mãe faz anos. Neste
dia vamos todos jantar ao restaurante favorito dela.
A minha máquina de lavar a loiça
finalmente avariou. Após meses de ameaças de deixar os pratos por minha conta,
o botão do programa deixou de se iluminar. Agora sinto facadas na omoplata de
meia em meia hora e quando lavo a loiça.
Hoje a minha mãe faz anos. Depois
de jantar vamos para casa e cantamos-lhe os Parabéns mais desafinados e
amorosos de todos.
Já consigo estar sentada à
secretária, sentada na melhor cadeira cá de casa e com os braços bem apoiados na
mesa, durante mais de 20 minutos seguidos. Por exemplo, este texto ainda só vai
em 2 horas de trabalho. Descobri também que no teletrabalho, ficar dois dias
sem trabalhar, só não tem o impacto visual das pilhas de papel acumuladas em
cima do teclado.
Hoje a minha mãe faz anos.
Juntámos a família numa videochamada e cantámos os Parabéns em tons e tempos
diferentes. Houve vários bolos de aniversário e velas sopradas em sítios distantes
uns dos outros. Nada substitui as presenças e os abraços. Mas é sempre bom
saber que, mesmo a destoar musicalmente, a família está em sintonia.
Parabéns.
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