domingo, 25 de outubro de 2020

Das saudades.

 


Dos amigos a jantar cá em casa. Todos encostadinhos uns aos outros. Ombros com ombros, doze pessoas à volta de uma mesa que só dá para seis. Das cotoveladas sem ter que pedir desculpa. De seres-humanos devidamente calçados e espalhados em pequenos grupos entre a sala e a cozinha. Enquanto uns abrem as garrafas, alguém mexe o tacho.

 

De beber o vinho do teu copo sem pensar.

 

De baralhar os copos e provar o peixe de prato alheio. Com garfo alheio. Das gargalhadas com a boca bem aberta, daquelas que mostram a dentição quase toda, das exaltações políticas que fazem soltar gafanhotos, das proximidades dos rostos para segredos e dos abraços espontâneos. De passar a mão pelos ombros, de sacudir uma pestana ou de limpar uma lágrima na face de um amigo.

 

De estender a mão.

 

De o álcool só servir para assar chouriças. De precisar de álcool para assar chouriças e não haver cá em casa porque se evaporou da garrafa esquecida no fundo da prateleira. De beber álcool sem hora limite, à noite, na rua, no aperto das portas dos bares ou na plateia de um concerto.

 

De cheirar a nuca dos bebés e de lhes repenicar beijinhos nas bochechas.

 

De não me perturbar com os abraços nos filmes. De dar o braço e de dar uma mãozinha. De respirar fundo. De forçar a entrada num elevador cheio de gente. De dar uma espreitadela ao livro da pessoa que vai ao meu lado no autocarro. De ler nos lábios. De me sentir sozinha no meio de uma multidão.

 

De abraçar os meus pais.


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